CICLISMO NO FEMININO
Programa de incentivo à participação ativa de mulheres no ciclismo.
A História do Ciclismo Feminino em Portugal
O Inicio.
A história do ciclismo feminino em Portugal começou praticamente com o aparecimento da bicicleta, mas só na segunda década do século XX surgiram em Portugal as primeiras praticantes que se dedicaram à competição.
Em 1908, Albina Martins foi uma das primeiras impulsionadoras da velocipedia feminina em Portugal, durante o período monárquico, mas foram as irmãs Cesina e Clara Bermudes, que em 12 de Outubro de 1924, colocaram pela primeira vez, o nome de duas senhoras nas classificações de uma corrida de ciclismo.
Albina Martins
Cesina Bermudes (esq) e Clara Bermudes (dt)
Imagem 3: Classificações da 1ª Volta a Lisboa em Bicicleta, em 12 de Outubro de 1924 (três anos antes da 1ª Volta a Portugal), entre Xabregas e Algés, pela estrada da circunvalação, numa extenção calculada em 12 quilómetros.
No ano seguinte, em 1925, Cesina Bermudes venceu novamente a Volta a Lisboa; no entanto teve forte oposição por parte da jovem setubalense, Oceana Zarco, que com a camisola do Vitória de Setúbal conseguiu um respeitoso 2.º lugar na classificação das Senhoras. Oceana, que foi a primeira mulher ciclista federada na União Velocipédica Portuguesa, com o n.º de licença 227, dominou a modalidade nos três anos seguintes, vencendo a 3.ª edição da Volta a Lisboa, a I Volta ao Porto e a I Volta a Setúbal, foi uma das grandes pioneiras do ciclismo feminino em Portugal.
Oceana Zarco, vestindo o equipamento do Vitória de Setúbal
Com o passar dos anos, foram várias a mulheres que contribuíram para que outras começassem a andar de bicicleta, como Cândida Resende, Carminda Costa e Júlia Gil Moreira, esta última a mais ativa na captação de atletas femininas para a modalidade.
Com a chegada dos tempos modernos, o ciclismo nacional viu nascer a corredora Ana Barros, natural de Viana do Castelo. Na sua participação em corridas nacionais e internacionais, alcançou 39 vitórias entre 1988 e 1996, de onde se destacam os seis títulos consecutivos de campeã nacional. Pela Seleção Nacional, além das diversas participações em Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa, foi a primeira mulher portuguesa a participar numa competição de ciclismo nos Jogos Olímpicos, tendo conseguido um destacado 23.º lugar, na corrida de fundo, em Atlanta, em 1996.
Video RTP Memória - "CICLISMO NO FEMININO, por Rui Alves", com destaque para Ana Barros e suas colegas de equipa (Tensai/Santa Marta/ Mundial Confiança)
A Atualidade.
A atualidade nacional.
Nas últimas duas décadas, no ciclismo feminino em Portugal, foram várias as corredoras que se destacaram a nível Nacional e Internacional, não só na vertente de estrada, como também nas vertentes de BTT, ciclocrosse e ciclismo de pista.
Nomes como o de Isabel Caetano, Ana Rita Vigário, Celina Carpinteiro, Daniela Reis, Maria Martins, Raquel Queirós, Ana Santos e Daniela Campos fazem parte de uma história atual, à qual muitos outros nomes se irão ainda juntar.
A atualidade na Beira Alta.
Com a criação da Associação de Ciclismo de Viseu, a 30 de julho de 2014, o ciclismo na região passou a fazer parte das modalidades desportivas com maior presença junto da comunidade.
Desde então, Ana Tomás, Andreia Freitas, Flávia Lopes e Joana Nunes têm sido as atletas beirãs que mais se destacam nas competições nacionais e regionais, tendo alcançado vários títulos no Campeonato Nacional, aos quais juntaram também vitórias na Taça de Portugal, nas várias modalidades velocipédicas.
A este lote de atletas, juntam-se, numa fase mais recente, a Bruna Gonçalves e a Maria Coimbra, com vitórias em vertentes até agora menos praticadas na nossa região, como o ciclismo de estrada e a pista.
Oportunidades de Carreira no Ciclismo
Arbitragem no feminino.
Apesar de as mulheres terem começado a sua ligação ao ciclismo através da prática desportiva, nem só como atletas têm tido lugar na nossa comunidade.
Em 1988 deu-se em Portugal um momento histórico, com a integração das duas primeiras comissárias no circulo de árbitros do ciclismo em território nacional. Paula Martins e Isabel Fernandes, ambas apaixonadas pelo ciclismo, concluem com sucesso o curso de Comissária Regional.
Com este acontecimento, dá-se o tiro de partida para que as mulheres passem a ter um papel preponderante na arbitragem do ciclismo nacional, abrindo o caminho e encorajando outras como elas, a seguirem os seus passos.
Felizmente, as ambições de ambas foram ainda mais longe, tendo ao longo dos últimos anos, desempenhado várias funções de destaque internacional, onde se inclui tanto a arbitragem, como a organização de eventos desportivos de grande importância no Âmbito internacional.
Currículo:
- Comissária Internacional UCI (desde 1998, até 2020)
- Formadora UVP-FPC / UCI
- Comentadora televisiva Eurosport
- Tradutora
- Organização de eventos
Funções de destaque:
- Organização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
- Presidente do colégio de comissários de várias corridas internacionais.
- Organização de Campeonatos do Mundo de ciclismo.
Origem no ciclismo:
- Iniciou-se no mundo do ciclismo como intérprete de equipas estrangeiras, no Troféu Joaquim Agostinho.
Isabel Fernandes
Paula Martins
Currículo:
- Comissária Internacional UCI (desde 1991);
- Formadora UVP-FPC / UCI;
- Diretora de equipa;
- Tradutora;
- Organização de eventos.
Funções de destaque:
- Comissária nos Jogos Olímpicos, nas vertentes de estrada e pista.
- Presidente do colégio de comissários de várias corridas internacionais.
- Fez parte do colégio de comissários de várias edições dos Campeonatos do Mundo.
Origem no ciclismo:
- A ligação ao ciclismo apareceu dos seus dois irmãos, que eram atletas da modalidade. Iniciou a sua atividade, trabalhando na Associação de Ciclismo de Lisboa. Ao longo da sua carreira foi também corredora, tendo sido uma das pioneiras do ciclismo moderno, à semelhança da atleta Ana Barros.
Na época de 2023, filiaram-se na Federação Portuguesa de Ciclismo 43 mulheres comissárias (2 - UCI / 15 Nacionais / 20 Regionais / 6 Estagiárias), que representam 28% do universo de comissários em Portugal.
Na Associação de Ciclismo da Beira Alta existem 3 mulheres comissárias, sendo uma delas, Andreia Santos, a Presidente do Concelho Regional de Arbitragem.
Comissárias da Associação de Ciclismo da Beira Alta (Andreia Santos, Joana Santos e Tânia Bastos)
Dirigir no feminino - Leonor Silva
Quem acompanha a Volta a Portugal facilmente se apercebe de predominância masculina na caravana. O que muitos não sabem, é que no meio desse mundo de homens existe também um senhora, Leonor Silva, que desempenha um papel de destaque na gestão da equipa Tavfer - Ovos Matinados - Mortágua.
Leonor, criou as suas raízes ao ciclismo em 1984, ano em que começou o seu namoro com o famoso corredor profissional, Pedro Silva. Desde essa altura, foi presença assídua nas corridas de ciclismo, acompanhando a sua cara metade até ao final da sua carreira desportiva.
Leonor e Pedro Silva, nos festejos de uma das vitórias alcançadas durante a sua carreira.
Em 1999, assume a função de Gestora Administrativa do Velo Clube do Centro, associação desportiva que fundou em conjunto com Pedro, e que se dedicou a desenvolvimento do ciclismo profissional e de formação, na região da Beira Alta.
Em 2021, com o falecimento do seu marido, assume a presidência e o rumo do Velo Clube, cargo que ocupa até hoje.
Leonor Silva, na Volta a Portugal de 2023.
Treinar no feminino - Andreia Dias
As carreiras no ciclismo são amplas, tanto para os homens como para as mulheres e a carreira de treinador não é exceção.
A Andreia Dias é uma das 3 treinadoras filiadas na ACBA.
A sua ligação ao ciclismo começou em 2015, ano em que passou a usar a bicicleta como forma de praticar exercício físico com regularidade. Em 2017 tirou o curso de treinadora de nível I, tendo sido uma das primeiras treinadoras da escola de ciclismo, ADRT Tondela. Até 2020 foi treinadora principal dos escalões mais jovens, passando a integrar os órgãos sociais da Associação Regional de Ciclismo de Viseu (atual ACBA) no final desse ano, assumindo a pasta da formação. Desde então, tem sido a dinamizadora de vários programas de desenvolvimento desportivo, como o programa Pedalar a Brincar e o Programa o Ciclismo Vai à Escolas.
Entre 2020 e 2022 foi também atleta federada, tendo sido uma atletas femininas que participou na 1ª Volta a Portugal Feminina, corrida que terminou por duas épocas consecutivas.
Andreia de Melo Dias
Ciclismo para todos no feminino - Cristina Borges
O ciclismo, enquanto modalidade desportiva é muito mais do que competição sobre duas rodas. O ciclismo de lazer ou recreativo, têm também grande expressão na comunidade velocipédica nacional, onde a percentagem de mulheres praticantes tem um índice de crescimento exponencial.
Na Beira Alta, Cristina Borges é uma das cicloturistas mais ativas nos últimos anos. A sua ligação à bicicleta começou nos anos 2000, quando após o nascimento do seu primeiro filho teve necessidade de praticar desporto para regressar à sua condição física.
Ao longo dos anos foi acumulando km atrás de km em cima da bicicleta, tendo gravado na sua memória as 3 edições de grandes voltas (2x Tour de France / 1xVuelta) que acompanhou de perto, pedalando pelos traçados e subidas míticas das suas etapas. Também no âmbito do ciclismo de lazer, faz parte ativa de um clube desportivo de Oliveira de Hospital, estando ligada à organização da Maratona BTT Lazer, desde o ano de 2014.
Desde 2019 que integra direção da Associação de Ciclismo, tendo assumido a função de Diretora do Ciclismo para Todos no mandato de
2019 - 2023. No mandato atual assume a gestão da pasta da Formação.
Cristina Borges
Competir no feminino - Ana Beatriz Tomás
Com 10 anos, a Ana começou a andar de bicicleta junto do seu pai e do seu irmão. O que começou como uma volta domingueira com familiares e um grupo de amigos, depressa se transformou num turbilhão de emoções, vitórias e algumas derrotas.
Aos 14 anos participou pela primeira numa competição federada, tens conseguido alcançar, mesmo na condição de estreante, um 3.º lugar que a motivou encarar o ciclismo como uma forma da abraçar a vida desportiva.
No ano seguinte, ainda com 15 anos de idade, sagrou-se Campeã Nacional de Rampa e fez um excelente conjunto de resultados, nas competições em que participou. Assim foi dado o tiro de partida para um invejável currículo desportivo, onde se incluem diversas representações pela Seleção Nacional, vários títulos de Campeã Nacional, assim como pódios nas classificações do ranking final, das competições nacionais de XC Olimpico e XC Maratonas.
Ana Beatriz Tomás
Benefícios do ciclismo nas mulheres.
O ciclismo oferece muitos benefícios importantes para as mulheres, mesmo se utilizarem a bicicleta como meio de transporte ou se praticarem diferentes variantes do desporto. Desde a bicicleta todo o terreno elétrica até a bicicleta urbana dobrável, e desde o passeio familiar até rotas quilométricas através de passos de montanha, há muitas formas de pedalar e desfrutar da experiência de escolher o teu próprio ritmo.
Primeiro que tudo, precisas conhecer o teu próprio corpo, as tuas forças e as tuas debilidades para decidir como utilizar a tua bicicleta e estabelecer objetivos atingíveis de curto prazo. Não estabeleças objetivos inalcançáveis, pois só vais ficar frustrada. Simplesmente, desfruta de cada percurso e chegarás onde nunca achaste possível. Ao longo do percurso, comprovarás os benefícios do ciclismo para a tua saúde, o teu corpo, a tua mente e a tua vida. Aquí tens alguns exemplos:
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O ciclismo melhora a saúde cardiovascular, aumentando a capacidade dos pulmões e queimando a gordura de todo o teu corpo, reduzindo o colesterol e a pressão sanguínea e favorecendo a circulação do sangue.
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Andar de bicicleta fortalece os músculos das pernas e dos glúteos. O ciclismo ajuda a reduzir a celulite, estimulando a gordura e os fluídos acumulados nos membros inferiores.
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Praticar ciclismo regularmente e uma dieta saudável e equilibrada vai manter a gordura do teu corpo sob controle e vai te ajudar a perder esses quilos extras. Se sofres de sobrepeso ou obesidade, o ciclismo é perfeito, pois é um desporto de baixo impacto e os teus tornozelos, joelhos e quadris vão te agradecer!
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As mulheres são mais propensas a sofrer artrite, por isso, se tiveres problemas nas articulações ou nos ligamentos e quiseres praticar algum desporto, a bicicleta é o melhor veículo para te deslocares ou para exercitares o teu corpo.
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Pedalar regularmente também melhora o sistema imunológico. Um estudo da Universidade de Birmingham encontrou que o timo (da palavra grega ‘thýmos’ que significa “energia da vida”, um órgão conhecido como a glândula da saúde e a imunidade) duma pessoa idosa que praticava ciclismo regularmente produzia tantas células T como uma pessoa de 20 anos.
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Os benefícios do ciclismo não são apenas físicos, se não que a mente também sofre uma mudança positiva. As endorfinas que o nosso cérebro solta enquanto pedalamos vão beneficiar a tua saúde mental. As hormonas da felicidade são as conexões psicológicas que conectam o sentimento do bem-estar e o exercício físico.
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Mover-te na cidade de bicicleta causa menos estresse que ir de carro e, quanto mais bike friendly seja a tua cidade, mais fácil será circular de bicicleta. Chegar ao teu destino mais rapidamente e economizar tempo é possível – dependendo da cidade, pois os paraísos ciclistas como Holanda, Bélgica e Dinamarca não são comuns no resto do mundo.
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O ciclismo é também uma excelente maneira de desocupar a tua mente, libertar tensão, esquecer os problemas diários ou incentivar a criatividade, deixando surgir novas ideias e pensamentos. Tudo isso sem mencionar o sentimento de felicidade quando andar de bicicleta, começar uma rota e ir mais longe do que o dia anterior, ir mais rápido ou simplesmente ficar menos cansado que a última vez. A tua confiança e auto-estima melhoram, sentindo-te mais poderosa depois de atingir a meta.
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O ciclismo também muda a tua mentalidade. Tornamo-nos conscientes do nosso estado físico, focamo-nos na nossa saúde e fazemos tudo o que é possível para manter um estilo de vida saudável. Podemos dizer que o ciclismo muda as nossas vidas porque o tempo que passamos pedalando se traduz em hábitos de vida saudáveis. Não vais dedicar esse tempo a outra atividade menos saudável ou prejudicial.
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E finalmente, graças ao ciclismo podes passar mais tempo com a tua família, o teu cônjuge ou as tuas amizades. Uma das melhores coisas do ciclismo é que podes praticá-lo sozinha ou acompanhada. Fazer uma rota de bicicleta em companhia, não é só bom para ti, mas também para os teus entes queridos. Não importa se não estão ao mesmo nível e não podem seguir o mesmo ritmo, desacelera e deixa eles ganhar alguma vez. :))
Estes são alguns dos muitos benefícios do ciclismo para as mulheres. Se não tiveres uma bicicleta, consegue uma que seja adequada para as tuas necessidades e procura ajuda para adaptá-la ao teu corpo. Sentir-se confortável na bicicleta é essencial para desfrutar do percurso e da companhia.